quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

A minha Avó Rosa

Hoje sonhei com a minha avó Rosa e por isso estou felicissima. Desde que ela morreu (quase 2 anos), só "consegui" sonhar com ela 3 vezes, e é sempre tão bom e tão real, vejo a carinha dela ao pormenor.

A minha avó Rosa era uma mulher pequenina de pernas arcadas e pele incrivelmente branca, tinha o cabelo branco aos caracois sempre muito bem tratado e usava o relógio do meu avô que parava constantemente, mas que ela insistia em dar-lhe corda, era o relógio do marido.

Lembro-me e tenho saudades;

de acordar em casa dela (foi minha ama), com o ruído da máquina de sulfatar (não sei se se escreve assim)a vinha do meu avô e ouvi-la sempre frenética de um lado para o outro;

da massa de talharim cozinhada no fogão de lenha;

de conversar com ela e ouvir sempre as mesmas histórias do antigamente;

de ser obrigada a ir à missa das 7h30 da manhã para a acompanhar;

de ser obrigada a rezar o terço quando dormia com ela;

de a ver sentada nas escadas a cozer;

de chamar "ó vóoooooo".

A minha avó teve 14 filhos e era uma mãe orgulhosa, alguns anos antes de morrer foi-lhe diagnosticado alzheimer e com o tempo deixou de reconhecer filhos e netos, mas a mim sempre reconheceu e à pergunta costumeira e chata, "quem é esta?, ela respondia; "é a minha neta Marciana, quem havia de ser!", ainda não conhecia a expressão dahhh, senão concerteza que a aplicaria.
Eu adorava as histórias dela, falava-me porque teve tantos filhos, dizia:

"Ora, era 1 atrás do outro enquanto a fábrica deu, nos tempos em que o teu avô esteve em França,sempre que vinha de férias, fazia-me um filho. Ainda andei no padre a aprender como evitar filhos mas ao mesmo tempo o padre dizia que era pecado negar ao marido, omessa ele queria sempre e se eu não podia negar então não me adiantava aprender a evitar".

E sobre os partos:

"Encostava-me na parede de pé e o teu avô aquecia a água e eu amparava o bebé com o avental enquanto o avô cortava o cordão. Davamos-lhe o nome na hora em que lhe viamos a carinha e em cada nascimento, os outros filhos tinham direito a 1 bolacha cada um para festejar".

Sobre o marido:

"O teu avô era muito meu amigo, nunca me bateu, nunca sequer me erguei a mão, tinha-me respeito!"

São infindáveis as histórias dela e eu guardo cada uma no meu coração, histórias que temo vir a esquecer, não quero esquecer.

Na última vez que consegui conversar com ela, já no hospital, estavamos de mãos dadas e ela disse-me baixinho para que ninguém se apercebesse; "eu já tenho esta dor a muito tempo, eu sei que o bichinho me vai matar mas eu já não estou aqui a fazer nada". Fiquei calada, não sabia se devia zangar-me com ela ou simplesmente entendê-la, desde que ficou viúva que dizia que já não fazia falta ao mundo.
Nos últimos dias de vida reconhecia toda a gente, como se de repente a alzheimer desaparecesse, para mim foi um último presente que ela deu a cada um que a visitava, um miminho de mãe e avó.

Tinha 84 anos e uma vida cheia, mas era minha e eu não queria que se fosse embora.

Cada vez que sonho com ela fico tão contente que por uns dias não há nada que me chateie.

15 comentários:

Anónimo disse...

Bela historia Mar,

pena só darmos valor aos pequenos momentos anos mais tarde.

Fizeste lembrar minha avo que faleceu à menos de um mês e também no hospital.
Esteve sem falar e sem reacção nos ultimos dias como se estivesse em coma.
Uma prima minha que nao a via à algum tempo dizia querer ir ve-la pois sentia que minha avo estava à espera dela para "se ir embora", todos os outros netos já a tinham ido ver.
Dez minutos depois de minha prima sair do quarto do hospital minha avo faleceu...

A vida às vezes tem destes momentos, "mágicos".

Amer

Vivian disse...

Adorei o texto de hoje. Um mimo! Tb adoro a minha avozinha :)

disse...

Texto sentido...cada palavra tua transmite sentimento...

A minha avó também faleceu a 2 anos e como tu, também tinha que ir a missa e rezar o terço :)

Tenho saudades...também fico sempre feliz quando sonho com ela, traz-me paz :)

Beijossss

Hebitsukai disse...

História comovente...principalmente porque nunca tive uma avó assim! Conheci apenas uma avó (paterna), mas estava sempre a chamar-me João Paulo (não me chamo isso...e essa tb é uma das razões porque odeio o meu nome)!! Nunca tive nenhum momento "especial" com a minha avó...ía pra casa dela de tarde kdo vinha da primária...andar de bicicleta sozinho...inventar brincadeiras pra me entreter...sempre fui sozinho nesta vida, por isso sou tão "inventor" e tão "engenhocas"! Anyway...a coisa que eu mais me lembro dela era o raio do doce de tapioca que ela fazia...e do leite creme...diabo de lanchezinho bom (mas até isso ela não me deixava comer duas vezes...dizia que era pró meu primo Paulo comer quando viesse da universidade...mais tarde quando cresci e já tinha deixado de lá ir...vi que era uma desculpa esfarrapada...porque havia tanto na travessa que dava pra mim e pra ele...enfim...sempre fui um trouxa)!! Era dona de metade das ex-"zonas verdes" da minha cidade...e vendeu tudo ou às freiras ou ao desbarato a um caralho kk!! Tudo por culpa dos meus tios uma cambada de egoistas gananciosos...aos quais ela protegia uns e cagava pra outros!! Além disso kdo havia merda lá em casa...a culpa vinha sempre parar cá ao je...coisa que fez com que a minha cota cortasse relações de vez com aquela familia...e com razão!

Anyway...isto tudo pra dizer-te, Marciana, lembra-te bem desses momentos...escreve-os em algum lado...já te disse ke tinhas jeito pra contar histórias e escrever um livro...por isso mete algumas da tua avó também, que a gente lê com todo o prazer!! Faz isso...porque nem todas as pessoas tiveram uma avó Rosa nas suas vidas...e tentam extrair um bocado desse sentimento de ti...já que foram tão sozinhos!!

Jitus

Avelã disse...

Amer

lamento não sabia mas vai daí já não nos falamos a tanto tempo, beijo grande.

Florença

porque a vida tambem tem outras coisas além de maluqueiras amiga.

Sapinha Cocas

Benvinda ao meu humilde blog. tão tambem sabes o que custava ir a missa contra vontade grgrgrg.

Mitsukai

não acho que escreva bem, ui nem pensar mas gosto de falar, conversar e aqui escrevo como falo com os outros, logo será sempre uma escrita simples e sem pretensões demais.
Se o meu blog e as minhas historias te fazem alguma companhia eu fico muito contente, beijo especial ;)

il primo disse...

Eu também tive uma avó assim. São cada vez mais difíceis de encontrar, esse anjos.
Já li umas tres vezes o post.
Deixaste-me com uma lagrima no canto do olho.
bj
il primo
p.s.- aquela coisa da vinha, é "sulfatar", de sulfato. Também cheguei a sulfatar à uns anitos.
Agora, tens que explicar essa coisa da "massa de talharim" que eu não sei o que é.

Avelã disse...

il primo por momentos pensei que teria acesso a um blog teu, quase me saltou o coração pela boca de esperança.

massa talharim é uma massa comprida e larguinha, boa boa.

beijo

Anónimo disse...

Também tive uma avó assim, só que se chamava Hilarina, foi a única que conheci, mas valia bem por quatro avós, foi a melhor avó com que a vida me podia prendar. O teu post não saíu dos teus dedos mas simplesmente do teu coração.
Abençoadas estas avózinhas que nos deixaram saudades mas tao boas lembranças. Bjinho

Hebitsukai disse...

(caralhos ta fuadam mais as putas da verificação por letrinhas)

2ª tentativa:

Beijo especial? que fiz eu para merecê-lo? Mas obrigado, bem estou a precisar deles!! Pena é que são todos virtuais!!

Quanto ao livro...se não tentares é que não sabes mesmo se tens jeito ou não!

Jitus.

Hebitsukai disse...

das verificações...

il primo disse...

Eh,eh.Se tivesse um blog, tinha que falar de politica.
É que tenho a cabeça cheia das enormidades que esses bardamerdas nos fazem engolir todos os dias. Basta que subam lá para a cadeirinha, só sai merda daquelas cabeçinhas para entalar cada vez mais o zé contribuinte. Não sei se seria capaz de escrever sobre outra coisa e o pessoal, depois, cansava-se assim como eu.
Tens que me levar a comer essa massinha!:)
bj

Patrícia Sousa Cardoso disse...

Sei bem o que isso é... :) Fiquei curiosa...sonhaste exactamente o quê?
beijos

Avelã disse...

il primo

tas convidadissimo.

Patricia

sonho sempre com ela a contar-me mais uma das suas historias e eu a agarrar-lhe as mãos, como sempre fazia, tinha uma mãos pequeninas e muito macias e eu nos sonhos consigo sentir isso e o seu cheiro.

Anónimo disse...

Pôxa deves ter rios de primos...

ps : a minha avô tem 93 anos, uns dias conhece as pessoas e outros não, mas a mim conhece sempre.

Avelã disse...

Migvi no total tenho 57 primos directos, é uma alegria, lol