segunda-feira, 2 de junho de 2008

As minhas horas de sufoco em hospitais publicos

Este blog tem vivido só de coisas simpáticas e piadolas sem jeito nenhum mas hoje apetece-me escrever sobre algo que me afectou muito recentemente, tanto que não consigo tirar da cabeça os momentos horriveis que passei em poucas horas, que para mim pareceram uma eternidade.

Há uns meses atrás decidi acabar com o meu seguro de saúde, tive-o durante muitos anos mas nunca precisava dele. Como era carissimo decidi que não valia a pena continuar com ele, afinal com o dinheirão que pagava por ele podia muito bem ir a particular à consulta de rotina anual do costume.

Até que quinta feira por volta das 18 horas comecei a sentir uma dor forte no estomago e decidi ir ao hospital de riba de ave, um semi privado, que fica a 3 km de casa. Pelo caminho a dor foi piorando. Chegada lá, pedi uma consulta e pedi muita urgencia que já nem sequer conseguia manter-me direita com tantas dores, que entretanto foram tambem para as costas. A resposta que obtive foi "AINDA TEM 7 PESSOAS Á FRENTE, TEM DE AGUARDAR". Insisti mas sem sorte, aguardei cerca de 1 hora para entrar, fui recebida por uma médica que 2 minutos depois me acusou de ter comido ao almoço um filete de peixe, que segundo ela "FAZ TÃO MAL". De nariz torcido porque fui marota manda-me para uma enfermaria com 6 camas e diz-lhe para me deitar numa delas. - Sra dra e que é que eu vou fazer? perguntei porque parecia que não era importante eu saber a que seria submetida. "DEITE-SE DEITE-SE QUE VAMOS FAZER UMA MEDICAÇÃO, VAI DEMORAR UM BOCADO".
Depois de ser picada 3 vezes na mão finalmente comecei a receber a medicação e deixaram-me naquele quarto escuro sozinha, pensei "ok vou tentar dormir e relaxar". Missão impossivel, as dores eram cada vez mais intensas, não tinha posição na cama, não me conseguia concentrar em mais nada senão naquelas dores horriveis, então toquei na campainha, vem um enfermeiro e uma auxiliar e peço ajuda, não estava bem, o enfermeiro olha para a garrafa de oxigenio de vai-se embora, a auxiliar da-me um mimo na testa e cobre-me com um lençol e um "TENHA PACIENCIA" (foi a unica pessoa com coração que encontrei nessa noite).
2 garrafas de medicação depois eu piorava, é aí que a medica decide aparecer e agora preocupada "JÁ DEVERIA ESTAR MELHOR ISTO É ESTRANHO", (pois se calhar não foi do caralho do filete). Fazem-me um electrocardiograma, levantam-me a camisola com a maior descontração e deixam-me assim de mamas ao léu para todos os que passassem no corredor pudessem ver, e a dignidade humana onde está? gosto de escolher as pessoas a quem mostro as mamas.
Sem resultados positivos a médica decide transferir-me para o hospital de Famalicão, porque já não sabia o que fazer. Entretanto deitam uma senhora ao lado da minha cama que se vomita toda a minha frente e sozinha. Durante todo este processo eu estive sempre sozinha, de tão aflita caí da cama 1 vez e ninguem reparou, chorei e gemi sozinha e não houve uma palavra de consolo.

Meia hora depois chega a ambulancia para fazer a minha transferencia, não vi mais a médica, nem mais ninguem, colocaram os papeis em cima de mim e tá de aviar a gaja para outro hospital.
J
á na ambulancia fui todo o caminho a vomitar, estava desesperada. Chegada ao hospital, vejo finalmente os meus pais, quase não consigo andar, até que para nossa surpresa não entrei de imediato nas urgencias, pediram para sentar e aguardar, eu já não conseguia reagir, reagiu o meu pai, quando me viu a desfalecer, enervou-se e recorreu a "atitude de cigano", fazer barulho. Resultou! Entrei, fizeram-me o rastreio, ainda um rastreio, lá dentro depois de muito tempo á espera e ainda a segurar a garrafa de soro já sem efeito porque via o sangue sair ao invés de ver o soro correr para as veias, levam-me para uma sala pequena com 2 velhotes e sentam-me numa cadeira dura. Picam-me a outra mão e colocam-me a medicação de novo, tiram-e sangue para análises e deixam-me ali durante horas cheia de dores, sem posição e agoniada, vomitava de 5 em 5 minutos, passavam enfermeiros mas nenhum me perguntava se precisava de ajuda. Olhava para as pessoas a minha volta e via pena, estava envergonhada, lembram-se da dignidade humana?
Depois de horas a espera, ajoelhada no chão, vem um individuo de oculos mal encarado e pergunta-me o que tenho, digo que tenho dores de estomago e costas, ele pergunta de novo o que tenho e denovo respondo, mais uma vez ele pergunta subindo o tom de voz, eu fico a olhar para ele e a pensar que o homem é doido, até que irritado me diz "APONTE PARA ONDE LHE DOI", sentindo-me humilhada assim o fiz e ele saíu. Continuei ajoelhada no chão mais não sem bem quanto tempo até que finalmente uma enfermeira chega ao pé de mim limpa-me o suor da testa e diz que as análises não acusam nada de grave. Eu imploro que me tirem as dores, eram 4 da manhã. Sai e volta com um frasco pequenino e coloca-o no lugar do soro, senti um gêlo pelo braço e passados alguns minutos sinto as dores aliviar, no final do frasco já estava sem dores, agora so pensava em dormir. Recebi alta e mandam-me para casa com um possivel diagnostico de CRISE DE VESICULA, não sabiam porquê mas devia ter sido, o médico toca-me pela primeira vez no estomago para confirmar se não tinha dores e discute com a enfermeira se me deve medicar ou não (foda-se), a enfermeira acha que sim e então saio de lá com uma receita.
Cá fora vejo os meus pais e fico feliz por sair daquela merda de hospital. Esta historia não vai dizer nada se calhar mas fique tão marcada, tão revoltada com o atendimento, com a forma como se lida com as pessoas doentes. Caralho as vezes basta uma boa palavra, já basta o sofrimento do doente. Choca-me a falta de sensibilidade, o calor humano, cada pessoa que me apareceu a frente via-me como mais uma, mais uma só.
Parecendo muito dramática eu hoje penso que prefiro morrer a caír num hospital. E penso como fui inconsciente em anular o meu seguro de saúde.

nota: que não haja filho da puta nenhum que me diga que os médicos são especiais, se nunca entendi porque é que os médicos são uma classe aparte, hoje entendo muito menos!
não me apetece reler o que escrevi portanto vai ficar assim!

9 comentários:

Unknown disse...

olha que já sei de histórias nos privados... pudera, estão a "comprar" os médicos do público. que grande cagada mesmo. lamento friend :o((

Felix disse...

Se bem percebi, no final de contas, ficaste sem perceber o que tiveste ao certo... :|
Qt a um dos teus últimos comentários, concordo que a mente precisa de tanta atenção como o corpo. Há mesmo quem diga que 70% da cura está no efeito psicológico do comprimido e só 30% vem realmente dos quimicos.
Felizmente o meu primo está a tornar-se num fabuloso médico, tanto a nivel cientifico como humano! Por isso.. Eu cá estou safo da merda do sistema hospitalar :P

Anónimo disse...

Isto porque você está no Velho Mundo, num país desenvolvido e cheio de maravilhas.

Tinha comigo que apenas no subúrbio de São Paulo que acontecia coisas deste tipo com os descendentes dos negros que vocês levaram para lá.

Fenómeno LXXXIII disse...

já por causa destas coisas é que eu trago sempre cmg uma dosesita de cianeto.. just in case.

agora a sério: nunca tive num hospital (durante a vida adulta) na condição de doente. mas já estive na de acompanhante e digo-te uma coisa: NUNCA MAIS!

Vivian disse...

Olha, eu cá tenho seguro de saúde e, sinceramente, continuo a ir ao meu habitual médico de família - o Hospital de São José. Mas não anulo o seguro ;)

chiqui disse...

"I feel you girl!!"
Ha uns 8 anos atras tive um acidente de automovel, grave, mas estive sempre consciente durante a noite que passei no hospital. Nao me gosto nem de lembrar...
Sei exactamente a revolta que estas a sentir e posso-te dizer que concordo plenamente contigo, tambem nao sei porque e que os medicos sao uma classe a parte.
Aqui nos states e um trabalho como outro qualquer e ao menor caso de negligencia vem a sua licenca retirada para sempre.

beijos e animo d'America
Chiqui

Busabroder disse...

FODASS, que história horrível! Só vem confirmar a opinião que já tinha dos médicos e hospitais, na sua generalidade. Eu nunca tive um problema de saúde que me fizesse pessoalmente passar por uma situação dessas. Mas tive várias vezes que desempenhar o papel que o teu pai teve, o do cigano passado dos cornos que tem de meter medo a toda a gente para que o seu familiar pudesse ter cuidados médicos, incluindo, num hospital publico, agarrar um médico pelos colarinhos e forçá-lo, sob ofensas corporais, a ver o meu familiar. Primeiro foi um avô, depois uma mãe, depois um filho prematuro. Depois destes episódios passei a ter pavor de hospitais. E na minha cabeça ficou bem vincada a ideia de que, em caso de doença grave, um hospital é um cenário de onde não podemos fugir tão terrível como a guerra e a fome, o mais baixo a que a condição humana pode descer. Dito isto, é justo referir que, em dez anos de doenças familiares graves, também dei de caras uns poucos maravilhosos médicos e enfermeiros, tão bons quanto humanos. Na generalidade, a ideia que fica é: a morte é preferível. É, claro que, sobrivendo ao episódio, o ser humano tem a espantosa capacidade de olhar para a vida e achá-la belíssima. Deve ser um reflexo compulsivo para não desesperar com a ideia "e se um dia tenho de voltar a passar esta merda?..." Conselho prático: volta-me a fazer esse seguro de saúde, no entanto, quando o caso é de urgência, na tugalândia, ainda dependemos muito dos hospitais públicos. MEEEEEEDO!

ps: avelã e leitores do blog, desculpem lá o comment em tom de desabafo... mas depois de ler a tua história, isto saiu-me assim tipo uma expulsão súbita!

Filipe disse...

Espero que estejas melhor.

Ana disse...

Pois eu compreendo... Hospital de Famalicão continua no seu melhor, uma porcaria. Sempre gostei do Hospital de Riba D'Ave mas recentemente também tive chatices por lá...Resta o São Marcos ou o de Guimarães...