quarta-feira, 5 de março de 2008

Senti as palavras do Bruno Nogueira como nunca senti por poeta ou outro escritor,tinha de vos mostrar.São palavras dele mas poderiam ser as minhas.

"a falta de lei da vida

De tudo o que me faz pensar, há uma coisa que me atropela a cabeça.A idade.Não a minha, a deles.Há qualquer coisa que rasga.Choram-me as estatísticas que eu estarei cá quando os meus pais não estiverem.Muito nublado, bem sei. Mas real.Posso tê-los agora, e abraçá-los com a carne que me deram, mas...e depois?Vejo-lhes os anos na pele e a pele dá-me saudades.Saudades do que não vou ter.É a lei da vida, e todas as frases feitas que pregarem nas paredes.Mas a saúde teima em ir à sua vida cedo demais.Não a deles, a das estatísticas.Hoje tenho-os ali.Visto daqui, dos meus olhos, não envelheceram.Foram emprestando um ou outro ano aos ossos.Quero o meu pai a ficar envergonhado quando diz "gosto muito de ti filho" e a minha mãe com gotas de amor a marcar passo nos olhos quando diz "gosto muito de ti filho, nunca te esqueças disso"Nunca te esqueças disso.E depois, o que fica?As memórias não são de carne, são de lágrimas.E essas custam mais a abraçar.Há qualquer coisa que rasga, eu bem disse.Sei que estão na casa dos sessentas. Mais precisão do que essa acelera-me o sangue."São novos". E porque é que não ficam sempre assim?Atrasem o relógio quarenta anos, vá lá.Só desta vez, ninguém vai dizer nada à terra.Apetece deixar cair uma pedra na roda dentada e parar tudo.A assobiar, para não ter de prestar contas.A palavra filho é patente deles.Quando a dizem há uma manta que protege o coração até cima.Depois da estatística fica só o coração e a manta enrolada aos pés.Podemos sempre puxá-la, mas nunca mais vai tapar tudo.E não, nunca me esqueço disso."
posted by Bruno Nogueira

4 comentários:

CR disse...

Foda-se... esta merda toca no coração dum gajo pá...

Felix disse...

Por mais que tente enganar a mente, não ha nada mais que eu possa fazer: a minha mãe morreu.
Por mais lamechas que hoje te pareça, repete vezes sem conta que os amas. Mesmo que eles façam cara de enjoados, abraça-os só porque estão ali. Cuida deles, como 2 crianças.
Porque sou testemunha: um dia, eles vão morrer. E tudo isso será apenas memória. Não voltaras a ouvir a voz, a sentir o toque, a respirar o amor.
Hoje é o dia que conta. Amanha, tudo será diferente.

anónimo disse...

(minhas também)

Anónimo disse...

Nos mais duros momentos chorei, antecipei a dor de o perder, de perder o meu querido pai.
Hoje as saudades são lágrimas...